sexta-feira, 29 de maio de 2015

Fechando a primeira parte da HQ


Uma das coisas mais legais na produção de Psicopompo é a certeza da surpresa.

É a sensação que antecede a abertura de um arquivo enviado pelo Carlos Hollanda ou pelo Osmarco Valladão, sabendo que vou ficar pasmo com suas interpretações de meu roteiro.

Eu ia postar esta semana um comentário sobre narratividade e etc, mas fui assolado pela essa beleza plástica dessa página, que encerra nossa primeira dezena de pranchas no lápis. 

O segundo passo agora é eu me impressionar com as páginas coloridas pelo Osmarco enquanto volto ao teclado para estruturar mais e melhores cenas, diálogos e confrontos, com a certeza que, a cada semana, vou me maravilhar com esses desenhos.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Uns e outros: alguns dos meninos da HQ

Miguel dividindo a bola com a galera 

A maior diversão de Psicopompo é compor, em parceria com Carlos Hollanda e Osmarco Valladão, as personalidades dos coadjuvantes. Nosso herói, Miguel, é um garoto pobre, mas íntegro, com coração de ouro e inseguranças advindas de um sentimento pouco claro de que possui uma missão importante, mas que ele não faz ideia qual seja. Ele é quase todo instinto, improviso e intuição, e, se por um lado isso o torna empático, é no contraste com seus companheiros mais próximos que essas características se destacam. Assim sendo, dá um certo trabalho construir personagens que complementem o protagonista.

Laquê, cheio de ginga e dono de um ego maior que o topete
Dentre os quatro meninos que compõem a galera, estabelecemos que um deles seria um oposto perceptível. Alguém vaidoso, ciente de seu valor e algo exagerado na aparência. Laquê, cujo cabelo foi inspirado em um velho personagem das telenovelas – Mederics, vivido por Ney Latorraca, em Estúpido Cupido – é o artilheiro do time da quadra, daqueles que acha que pode resolver tudo sozinho.

Ele é o clássico “fominha”, um fanfarrão, alguém que se julga um pouco melhor do que realmente é, mas que, exatamente por isso, é sempre o primeiro a se jogar na frente da situação arriscada, a tentar blefar o inimigo, a “pagar para ver”. Baseei a postura e os diálogos de Laquê em dois amigos de infância e juventude, sempre os melhores exemplos quando vamos falar de adolescentes. Então, se alguém se reconhecer em algum gesto ou frase de Celso Laquê (o apelido vem do cuidadoso penteado, que os meninos acreditam ser fixado com o laquê da mãe dele), não se assuste, é com você mesmo que estamos falando.

Poeira, alérgico até dizer chega, esperto como só
 O segundo amigo mais próximo de Miguel é o malemolente Poeirinha. O nome vem de sua alergia eterna, que o deixa quase sempre o com o nariz entupido e a voz meio fanha, mas isso não impede de ser o mais esperto e observador do grupo. Diferente de Laquê e Miguel, ele tem noção de seus limites, uma visão clara de tudo e todos. Sempre percebe quando alguém está triste ou insatisfeito antes de todo mundo. Isso inclui o perigo, do qual tenta sempre escapar na base da conversa. Jorge Poeira, o rei do papo furado e do nariz escorrendo, é o diplomata da rapaziada, sempre com uma boa piada para aliviar o ambiente e a certeza que tudo na vida pode – e deve – ser negociado.

É Poeira quem percebe que Miguel é diferente, que tem um mistério, algum de segredo que é muito maior que qualquer coisa que eles possam imaginar. Porém, ele também acredita que a única função da existência de segredos é serem desvendados, o que às vezes não é nada salutar.

Outros dois meninos são Ricardo Coruja e Chiquinho Natureza. Coruja é ligeiramente mais velho que os outros, mas nem por isso mais inteligente. Dono de uma miopia que o força a usar um par de óculos enormes, Ele é aquele que sempre é usado como embaixador quando os guris tentam lidar com adultos. Infelizmente, sua dicção atrapalhada acaba atrapalhando. Já Chiquinho Natureza é um namorador. O apelido vem do fato de os meninos o acharem tão ruim de bola que dispensaria marcação, pois “a natureza marcaria sozinha”), mas talvez o fato é que ele realmente se interessa pouco por futebol, sempre buscando um jeito de roubar um beijo ou ao menos um olhar das meninas. Longe de ser tão vaidoso quanto Laquê, Chiquinho Natureza sabe que tem seu charme e sempre que pode desaparece atrás de um rabo de saia, para desespero de seus companheiros, subitamente desfalcados no meio de um jogo.

Esse é nosso elenco secundário. É em torno – e com o auxílio – deles que Miguel vai enfrentar a tempestade que se aproxima.

ATUALIZADO POR CARLOS HOLLANDA

Os personagens parecem calcados em mapas astrológicos reais. O Poeira tem que ter algo de Gêmeos (esperto, ágil, falador e com problemas respiratórios) + Libra (mediador, atenuador de conflitos) + Câncer (compreensivo com as sutilezas dos demais e seus dramas internos, protetor sem ser fanfarrão).

Laquê é leonino, com certeza. Metido a esperto e a melhor, generoso, mas com um ego do tamanho de um bonde. O cabelo é a juba. Leoninos costumam ter essa questão com os cabelos mesmo quando carecas. Laquê deve ter um ascendente em Áries, pois é brigador, enfrenta os oponentes na maior cara de pau, mesmo que tenha que correr deles depois.

O Natureza é o sedutor Libra + o dispersivo Peixes. Ruim de bola ou de qualquer esporte, é ótimo estrategista por um lado, mas um sonhador romântico por outro, fácil de errar caminhos conhecidos por que se distrai com algo interessante. Perde o gás facilmente quando sua atenção é desviada para algo, digamos, mais idílico que um bando de homens suados e fedidos.

Coruja só pode ser Peixes + Sagitário. Grandalhão, atrapalhado, feito o Pateta da Disney, sempre otimista e disposto a um auto-sacrifício, mesmo que se dê mal quando vai representar a turma. Há muitos piscianos ou Ascendentes em Peixes que ficam estrábicos quando dispersam a atenção. Ele também deve ter o planeta Mercúrio no mapa bem bombardeado com aspectos tensos: a dicção ruim. Mercúrio tb rege a fala articulada e a escrita.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

As reencarnações do imperialismo e o poder do moderno na tipografia.



Em 1988, um filme – que não gostei na época – chamou minha atenção por apenas um detalhe aparentemente invisível para a maioria das pessoas. Esse filme é Eles Vivem (They Live), de John Carpenter. Por trás da trama sobre invasão alienígena, havia uma crítica pouco sutil sobre a cultura yuppie e o capitalismo exacerbado. O “McGuffin” do roteiro para toda a ação era a existência de óculos especiais que permitiriam ao usuário “ler” a verdadeira mensagem subliminar de submissão por trás de todos os outdoors, capas de revista e programas de TV. Ou seja, nossa sociedade já estava dominada pelos aliens, que em lugar de disparar torpedos em Washington ou destruir a camada de ozônio, simplesmente nos convenceram a consumir o planeta, cultuando o “Deus dinheiro”. 
Uma metáfora rasa, sem dúvida, mas o que me chamou a atenção foi um detalhe: todos os letterings do filme eram construídos com variações de uma única família tipográfica: a Futura


Futura é uma família tipográfica sans-serif criada em 1927 pelo tipógrafo Paul Renner, buscando um viés modernista, geométrico e diferenciado. Apesar disso e de sua proximidade estrutural dos projetos tipográficos da escola Bauhaus, o lançamento comercial da Futura ocorreu apenas nove anos mais tarde. A família tipográfica de Renner, além da forma geométrica e sem serifas, privilegiando triângulos, círculos e quadrados em detrimento de ovais, também ansiava por um ineditismo, deixando de lado modelos antigos e referenciais. Apesar de todo esse desejo pelo novo, algumas semelhanças formais com a Capitalis Romana – letras cunhadas em Roma para os templos e monumentos, projetadas para leitura ao longe e que também serviam como identidade visual do império – são inegáveis, principalmente nos ângulos agudos de letras como “M” e “A”.

Talvez aí, nessa aparente contradição, resida o fascínio exercido pelo projeto de Renner, pois apesar de ansiar pelo novo, existe ali uma sedução pelo lado portentoso, poderoso, do Império Romano. E talvez por isso aceitemos essa família tipográfica como fator de reconhecimento de uma cultura invasora, estranha, alienígena.


Por esses motivos, escolhi a Futura para o primeiro logotipo de Psicopompo. Sim, primeiro, pois o logo deve refletir a natureza do protagonista e, por isso, decidimos que haverá uma evolução constante na estrutura das letras até o término da confecção do álbum, sem , porém, macular sua identidade tipográfica.

Aguardem os futuros passos. 

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O pombo psíquico na rede

Mais um belo sketch do Carlos Hollanda
Desculpem o atraso, senhoras e senhores, mas foi uma semana cheia pra os moradores deste pombal. 

Fui entrevistado pelo Delfin, no programa Ninho do Coruja e falei sobre Psicopompo, a HQ Tamasha e  o Fim do Mundo e até sobre o Prêmio Hugo de ficção científica.

Alguns dias depois, foi publicada a entrevista que eu, Carlos Hollanda e Osmarco Valladão cedemos ao Wilson Simonetto para o novíssimo site de cultura pop Pastel Nerd. Muito obrigado pela oportunidade e pela divulgação, Wilson, Maurício Muniz, Ben Santana, Fábio Ochôa e toda a galera. Vocês são os melhores.

Mas as asas do pombo não param de bater. Fiquem antenados aqui no blog, porque novidades não tardarão. Semana que vem voltaremos para discorrer um pouquinho sobre as escolhas tipográficas de Psicopompo, porque designer que se preza tem de falar sobre letras ou então pensar seriamente em mudar de carreira.